Uma mega operação da Lei Seca, promovida pela Polícia Militar e com apoio de outras corporações do Estado, como a BH Trans, mobilizou o bairro de Lourdes na última sexta-feira. Os principais cruzamentos do bairro tiveram suas vias delimitadas por cones e viaturas da Polícia Militar sinalizando blitzs que paravam um grande número de veículos. Os cerca de 60 estabelecimentos do bairro de Lourdes, em sua maioria restaurantes, viram suas mesas vazias e a clientela que chegava de carro no bairro, pronta para se divertir na noite, teve que passar pela vigília e voltar para casa.

Desde então, muito já foi questionado sobre essa intensa operação da Polícia Militar. A indignação dos donos e também dos frequentadores dos restaurantes, que por sua vez são os aceleradores do movimentado Lourdes, não demorou para atingir as redes sociais. Segundo nota divulgada pela assessoria de imprensa da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Belo Horizonte) “a situação fugiu da razoabilidade, já que os estabelecimentos pagam impostos, geram emprego e estão na legalidade”.

Muitos restaurantes tiveram perda de 30% a 40% do faturamento, em um dos casos a perda foi de 60%. Dos cerca de 380 veículos abordados na operação, apenas 6 foram multados. O empresário Fernando de Almeida Júnior, presidente da Abrasel,  acredita que a mega-operação teve muito de teatro e pouco resultado: “somos a favor da Lei Seca, mas não da forma como foi apresentada. Se o intuito era pegar um grande número de infratores, deveriam então ter se espalhado pela capital e não apenas em um único foco, como foi o caso de Lourdes”.

Segundo Maurício Gomes, Gerente do restaurante O Dádiva, “se é lei, precisa ser cumprida, mas a abordagem foi muito forçada. Trata-se de uma lei recente que para ser respeitada será preciso acabar com uma cultura existente há muitos anos. Para quem paga impostos altos, além das taxas extras como as que são cobradas para toldo, cadeiras na varanda e para balança utilizada na cozinha, deve haver uma outra abordagem. Além disso, há os mendigos e vendedores ambulantes que compartilham o mesmo espaço sem pagar impostos”.

Quem acessou as redes sociais naquela noite, evitou o tráfego local e desviou a rota para outros pontos de encontro da cidade. Mas o bairro de Lourdes não foi o único que sofreu esse tipo de represália, pois em outros pontos da cidade também será realizada a mega-operação. De acordo com as informações do Tenente Coronel Roberto Lemos, do Batalhão de Trânsito de Belo Horizonte, “esse tipo de ação já é uma rotina diária da Polícia Militar e essas mega-operações, como a que aconteceu no bairro de Lourdes, irão acontecer quinzenalmente em outros bairros da capital onde a concentração de bares é intensa, como no Prado, na Savassi e no Barreiro”.

Belo Horizonte é a capital nacional dos bares e conta hoje com milhares de estabelecimentos dedicados à gastronomia e a um bom drink e isso não vai acabar. Por outro lado, para defender a vida do cidadão, existe a Lei Seca. Como lidar com esse dilema? Ao que tudo indica, a partir de agora, uma saída à noite deverá incluir na programação como voltar para casa. A responsabilidade no exercício da cidadania, pode sim, estar aliada à diversão. Se dirigir, não beba, se beber, eleja o amigo da rodada.

O aplicativo de trânsito para iphone, Waze, mostrava a situação do bairro.